Terceiro Ato
A Técnica
“Se ofereceis em sacrifício um animal cego, não haverá mal algum nisto? E se trazeis um animal coxo e doente, não vedes mal algum nisto? Vai, pois, oferecê-lo ao teu governador; crês que lhe agradarias, que ele receberia bem? - diz o Senhor dos exércitos (Ml 1:8)”.
Lembra que através do teatro, oferecemos nossas vidas a Deus, a fim da propagação do Evangelho de Cristo?
Pois bem, a vida você já viu como deve ser, consagrada. Mas e o trabalho, pode ser de qualquer jeito?
“Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria (Ec 9:10)”.
Com todas as tuas faculdades quer dizer que não é além, nem aquém do que você pode dar, mas sim que você deve oferecer o máximo, mesmo que isso aos olhos das pessoas não seja o melhor. Sempre terá o que aprender, sempre terá erros para serem corrigidos, os erros existem não para nos impedir, mas para nos motivar a não pratica-los mais.
Não é porque somos armadores que vamos fazer de qualquer jeito.
Maldito aquele que faz com negligência a obra do Senhor! (Jr 48:10 ) ou ainda relaxadamente, ou mesmo negligentemente, dependendo da tradução.
Faça o seu melhor, isso incluir o melhor do seu tempo, do seu empenho, da sua disciplina, da sua vontade, do seu estudo, da sua experiência espiritual, tudo isto não para mostrar aos homens e sim para oferecer a Deus.
O Texto
Vamos começar do começo por uma questão de princípio. (risos).
É no texto que a técnica começa a ser desenvolvida. Cada frase, cada palavra ali escrita tem um obejetivo, por isso, não pense que é só chegar no dia da apresentação e falar “aquilo que vier na telha”. O Texto precisa ser estudado, entendido e aprendido.
Entender e Aprender
“Tem que decorar o texto!”, “tem que decorar o texto!”, quem nunca ouviu isto em se tratando de teatro? Mas esqueça isto, você tem que entender e aprender o texto, não decora-lo.
“Isto significa que eu não tenho que ler o texto diversas vezes?”, errado, isto significa que você tem de ler até entender o texto, o que ele quer ensinar, qual sua mensagem principal, quais são as mensagens secundárias, enfim, entender o que ele é e aonde quer chegar. E depois aprende-lo, de onde ele sai, por onde passa e quando termina.
“Dããã, então é o mesmo que decorar, oras!” errou de novo. Simplesmente decorar o texto vai tirar bastante do seu poder de interpretação, pois estará simplesmente repetindo um texto vazio, sem no entendo saber o que está falando, igualzinho um papagaio.
Quando você entender texto vai saber o que e o porquê está falando, e quando aprender, saberá quando irá falar. Ou seja, terá liberdade para VIVER o personagem e não simplesmente repeti-lo.
Ainda terá a vantagem de modificar o texto, sem sair do contexto ou mesmo improvisa-lo se alguém errar as falas na hora, pois sabe muito bem onde está e aonde quer chegar.
Vamos separar as coisas para facilitar.
Entendendo o Texto
A Mensagem
Qual é a história?
Qual é a mensagem principal?
Quais são as outras mensagens (secundárias)?
As Falas
Porque isto foi escrito?
Qual é o propósito desta fala?
Qual a importância desta fala?
Personagem
O nome
As características
A função na história
O ápice (entrada ou fala crucial na história)
Como entra, o porque entra na história.
Como se desenvolve e o que causou o desenvolvimento?
E como termina na história.
Estes três últimos são fundamentais quando um personagem passar por mudanças na história, exemplo: Começa fervoroso, se desvia e depois retorna para a Igreja.
Parece difícil né? Mas acredite, na prática é bem mais fácil do que mostra a teoria.
Aprendendo o Texto
Quando você entende cada elemento do texto, fica mais fácil aprende-lo. De forma que você precisará apenas memorizar o ENREDO.
Exemplo: João sai da Igreja, se envolve com drogas, encontra sua ex-namorada, desabafa com ela, ela o despreza, ele tenta se matar, encontra um velho amigo que o evangeliza, mas recebe a mensagem com aspereza, mandando que o amigo nunca mais fale com ele, desiste de se matar, vai na Igreja, ouve mais uma vez o Evangelho, volta pra Jesus, ora, encontra novamente sua ex, fala de Jesus pra ela e ela se converte.
Ufa! Primeiro você entende o que vai falar e o porque vai falar, depois aprende quando vai falar.
Imaginação na Dose Certa
Antes de interpretar um personagem você o imagina ou mesmo tem uma certa noção de como ele será: Alegre, emburrado, fofoqueiro, etc.
Isso é muito bom, pois te dá uma base do que irá fazer no palco. Porém, isto pode nos levar a cometer erros, como investir em estéreo tipos.
Não tem coisa mais chata do que uma imitação mal feita, fica parecendo gente famosa fazendo comercial, aquela coisa dura, forçada, por isso, seja ORIGINAL, represente com a máxima realidade possível.
As pessoas se identificam com a realidade, invista nos detalhes, mas não deixe que o detalhe seja maior do que todo o personagem.
Exemplo: Vais interpretar um fofoqueiro? Errado, vais interpretar o João, que é invejoso, bisbilhoteiro, é apaixonado pela Maria e para tirar todos do seu caminho, faz fofocas.
Não resuma seu personagem a uma característica, coloque nele, tiques, manias, um jeito de falar diferente, o incremente, sem sair do natural.
Use a sua imaginação para visualizar toda a apresentação, não só o seu personagem, pense em cada detalhe, no seu companheiro de cena, enfim, imagine! Seja o primeiro crítico do seu trabalho.
A imaginação é o primeiro exercício do teatro, mas tem que ser na medida certa.
A Importância das Deixas
Deixa é a palavra ou expressão que deixará a idéia a ser seguida na próxima fala. Em outras palavras, deixa é a palavra ou expressão que você não pode deixar de falar, pois tornará a próxima fala sem sentido.
Exemplo: - Ah, Jesus, ninguém merece viu! – Ah, Jesus, digo eu Drika, porque você acha que não serei missionário?
Já pensou se o intérprete dissesse “Eu mereço” ou “Dããã” ao invés de Ah, Jesus? Iria deixar a outra fala sem sentido, ainda que esteja dentro do contexto.
Preste atenção nas deixas, identifique-as no texto e não deixe de fala-las.
Por isto, o estudo, entendimento e aprendizado do texto são tão importantes, pois você diminuirá a chance de pular as deixas e se caso alguém pular as suas, conhecerá tão bem o texto, a ponto de improvisar sem fugir do assunto.
A Interpretação
Agora que você estudou o texto, aprendeu o enredo dele e imaginou o personagem, é só coloca-lo em cena: Simples!
Brincadeira eu sei que não é simples, interpretar é complexo e desgastante mas também é muito bom.
Viva o Personagem
Interpretar: Explicar; traduzir; tornar claro o sentido de; Reproduzir pensamento de;
Representar: Exibir uma peça de teatro, pondo-a em ação no palco ou desempenhar um papel na peça em ação;
Interpretar vai muito além do que defini os dicionários, explicar, esclarecer, exibir-se, isso qualquer um faz, porém, dar vida a um personagem não é uma tarefa tão simples assim.
Você já teve ter ouvido que o segredo para chorar em cena é pensar em algo muito triste. Pena que existe tanta gente enganada a esse respeito.
Um personagem não é um amontoado de falas, muito pelo contrário, é uma pessoa cheia de sentimentos, razões, defeitos, qualidades e etc.
É por isso que estudamos o personagens, para que durante alguns momentos possamos não repetir falas e sim, viver uma outra pessoa, num outro lugar, repleto de pessoas diferentes.
Está ai o segredo para interpretar, não apenas por em ação um personagem, mas vivê-lo com toda a intensidade, demonstrando seus anseios, seus medos, suas alegrias e suas tristezas.
Se meu personagem perde a mãe o pai e é rejeitado pelo restante da família, porque vou ficar pensando na morte da bezerra para chorar em cena?
Oras, eu sou, naquele momento o injustiçado da vez, eu estou sofrendo igual um condenado, logo vou chorar, e muito, diga-se de passagem (risos).
Por isso, esqueça quem você é, a final, durante aquele momento, não vai ser a Mariazinha fazendo papel da Joana, e sim a Joana em palco.
“Nosso teatro é a arte de usar tudo para ser, por alguns momentos, quem não se é, para sendo quem se é, ganhar outros que não sabem quem são, porque são, onde estão e para onde vão.”
Concentração
É muito difícil se concentrar, a ansiedade, o medo, o público, o diretor, os auxiliares, todos eles criam um clima estressante que pode gerar em você dois sentimentos: O de entrar em cena logo e acabar de vez com aquilo tudo ou o de sair correndo na primeira oportunidade.
A concentração é o meio mais fácil de driblar todos esses sentimentos, pois quando está concentrando, não importa o que acontece a sua volta, os microfones chiam, o contra-regra tropeça e isso não lhe comove, ou seja, aconteça o que acontecer você está pronto para viver o personagem.
Existe um sentimento que é o pior empecilho para quem precisa se concentrar: A falta de confiança, e ela se manifesta sob dos aspectos, pessoal e espiritual.
Pessoal: Deveria ter orado mais, jejuado mais, ensaiado mais, lido mais o texto, prestado mais atenção, desistido logo no começo... Pode parar com isso! Na hora da apresentação não adianta se lamentar, o que está feito, está feito. Então esqueça essas murmurações e faça o trabalho.
Espiritual: Não vai dar certo! Deus não vai abençoar! O Padre vai reclamar! Vocês vão ser envergonhados! Como satanás é mentiroso. O pior é que às vezes perdemos tempo escutando ele. Não dê ouvidos a estas conversinhas furadas do inimigo, confie em Deus, coloque Ele na frente de tudo, inclusive da sua vontade.
"Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque ele tem cuidado de vós". (I Pe 5:7)
É natural que você sinta medo, ou mesmo aquele famoso friozinho na barriga, por isso fique tranqüilo, procure se acalmar e lembre-se que Deus está no controle de nossas vidas, nEle podemos confiar.
Movimentação e Posicionamento e Cena
Teatro não é jogral, logo não é para ficar ali parado com cara de paisagem recitando textos.
Teatro é ação, por isso, gesticule, mexa-se, e se movimente, dando a cena ritmo. Utilize o palco inteiro, todo aquele cenário a sua disposição, por isso “encha o palco com a sua presença”, faça com que as pessoas entrem no ritmo da peça. Lembre-se que não é porque você tem que ficar no mesmo lugar que você não vai se mexer, interaja com seus companheiros de cena, abraços, tapinhas, “pedaladas”, beijos e cumprimentos diversos, deixam a cena mais real e melhor para assistir.
Não esqueça de que o público quer te ver, por isso, nunca dê as costas para ele, além de falta de educação, deixa a peça muito feia. Quando precisar andar, conversar em “rodinhas” faça sempre de lado, de modo que ainda que não te vejam inteiramente, possam te ver de perfil.
O melhor local para as pessoas te verem é o centro, por isso ainda que você se movimente muito, procure sempre o centro do palco, principalmente para monólogos e “rodinhas” onde não dá para ficar andando em cena.
O Corpo
Somos acomodados, basta ver a dor que sentimos quando tentamos praticar qualquer tipo de exercício, quando não nos acostumamos a fazê-lo.
Não vai ser no dia da apresentação que você vai ganhar mobilidade, até para cair você tem que ter jeito, a fim de não parecer forçado e nem se machucar.
Movimente seu corpo em casa, em frente o espelho, vá aos poucos (isso mesmo, aos poucos, e não igual um desesperado, se não vais ganhar luxações sobre luxações) movimentando se corpo, esticando daqui, flexionando dali, enfim, conhecendo suas limitações.
O Rosto
Gestos falam mais do que muitas palavras, mas gestos mal feitos matam atores de vergonha.
Sabe aquela cara de tristeza que ficou parecendo que o cara estava com dor de barriga, ou aquela expressão de felicidade que ficou com um jeito muito idiota? Pois bem, isto tudo pode ser corrigido se você conhecer bem seu rosto.
Vá para o espelho de novo (inimigo dos gordinhos, mas que quebram um super galho), faça expressões de choro, riso, dor, felicidade, alegria, espanto, apaixonado, enfim, vá modelando e conhecendo seus fortes e fracos.
A Voz
Falar alto é diferente de gritar, é necessário que você conheça sua voz, saiba seus limites, em que tom ela fica mais bonita, etc.
Um bom exercício, é contar de 1 a 10 aumentando gradativamente o tom de voz, sendo o 1 o mais baixo e o 10 o mais alto.
Porém além de conhecer sua voz, é necessário que você cuide bem dela:
Não fique gritando igual um doido;
Não fale em ambientes onde haja competição (ex: onde a música está alta e você precisa se esforçar para falar e para ouvir);
Não deixe a garganta seca, tome sempre muita água;
Coma maça, ela é ótima para “limpar a garganta” e evite refrigerantes e bebidas muito geladas.
Como dito anteriormente, falar alto não é gritar, é colocar a voz de tal modo que a pessoa sentada na última cadeira possa nos ouvir com clareza. Para tanto é necessário que você respire bem e fale com firmeza, sempre tendo o objetivo de ser escutado por todos.
Os ensaios
Apesar de parecer massante, os ensaios são necessários, são neles que corrigimos os erros, ganhamos familiaridade com o texto e demais personagens, acertamos detalhes, modificamos, enfim, os ensaios são muito necessários.
Não negligencie os ensaios, só porque acha que tem mais facilidade de aprender do que os outros, ensaiar uma cena onde há mais de um personagem sozinho ou com o elenco incompleto, até para fazer, mas compromete muito o resultado final, por isso, não falte aos ensaios, e nem chegue atrasado (se for NECESSÁRIO avise com antecedência).
Falta de compromisso com dias e horários é no mínimo desrespeito aos demais integrantes do grupo.
Não é porque uma cena está fechada, ou seja, completa, com todos os detalhes acertados, que não iremos ensaiar mais, como tudo na vida, quando fica sem uso acaba perdendo o jeito, fora que ensaiar repetidas vezes te dará segurança.
Vá além dos ensaios oficiais, ensaie em casa, na frente do espelho, com seu irmão (eles são os melhores críticos, não precisa levar em consideração tudo, mas boa parte vale a pena), passe o texto com ele, etc.
Praticando todo dia, será muito mais fácil “entra no clima” da peça do que ensaiar apenas aos fins de semana.